Foi em uma noite de rock, minha banda cover preferida tinha acabado de tocar, em me empolguei tanto que esqueci de terminar minhas fichas de cerveja. O show foi ótimo e o DJ estava me segurando na pista com uma lista clássica de alternativo, grunge e indie. Eu me posicionei perto das mesas de sinuca, o local ainda tinha gente ocupando os bancos e a borda das mesas viraram estacionamentos, de braços, pernas, bundas, garrafas, copos e taças.
Uma taça se posicionou ao meu lado, era gin e tônica, um dos drinks favoritos dela (descobriria depois), uma das taças dentre algumas daquela noite (nunca descobriria quantas). Ela estava com um casal que a alertou para não deixar a bebida sozinha, pois alguém poderia batizá-la com algum "boa noite cinderela". Eu ouvi, intencionalmente puxo uma bola da mesa e finjo estar colocando-a como se fosse uma pílula em sua taça, lógico, como disse, era para chamar a atenção, pelo exagero.
Mesmo com algumas taças anteriores na cabeça e meio desligada, se virou e percebeu minha atitude me repreendendo:
- Heyyy.
- Ops, estava apenas testando a teoria dos seus amigos.
Eu já tinha percebido um pouco do jeito dela e fiquei interessado, ela agora tinha me reparado e percebeu a intenção da brincadeira. Ela estava animada, pensei que estavam comemorando algo, trocamos olhares, aproximações e algumas palavras. Mas como disse, o DJ estava inspirado e não deixava nossos corpos parados, mas o dela estava elétrico, próximo e se insinuando. Acredito que falamos ao mesmo tempo sobre como aquele som era bom e ela me convidou para dentro no mundo dela naquele instante me chamando para dançar, na verdade, ela queria alguém para pular junto com ela, tal era sua energia e alegria.
Eu não sei de onde veio minha coragem, da música, do álcool... muito provavelmente ela me fisgou de alguma forma, pois sou tímido para isso. Mas confesso, que tinha gostado dali e tinha algo naquela noite que estava me deixando feliz e animado, ou era ela que tinha me provocado.
Enquanto "dançávamos", nos tocamos algumas vezes, nos esbarramos, nos alisamos. Rolou abraços e braços... rolou mãos nas mãos e mãos pelos corpos. Eu adorando aqueles olhos sorridentes e buscando uma forma de aproximar de sua boca. Foi em um descuido e rolou um beijo, alguns beijos que sempre escapavam devido ao movimento do corpo que se afastava. Conseguimos nos abraçar, ela tocou meu rosto, alisando minha barba com força, se aproximando e sentindo meu cheiro.
A partir daquele momento eu percebi que ela realmente estava na minha, eu claro, na dela. Nós não conseguíamos sair de perto um do outro. Ela elogiou meu perfume, voltando a todo momento no meu peito e pescoço aspirando com intensidade meu cheiro, me tocando e fazendo sua pele, roupa e cabelos me tocarem. Era uma sensação maravilhosa e estimulante.
Eu ainda tímido estava sendo arrastado para dentro de uma leveza louca que me movia para perto dela e a música funcionava como ondas que nos puxavam um para o outro.
O rock, o indie..."be my girl, be my girl", Are you gonna be my girl? (pensei) Nesse momento os olhos nos olhos ficaram mais intensos, e coisas estranhas já aconteciam dentro da gente sem que a gente soubesse.
Após algumas músicas, danças e pegas, já estava rolando uma espécie de lado a lado mais juntinho. A pista estava se encerrando e fomos caminhando para fora conversando sobre nós, ela falando sobre ela, os amigos, sua vida e até sua família, inclusive sobre seus problemas. O álcool estava bem falador por essas horas, eu, preocupado e tentando ser gentil, me ofereci para pegar uma água, com medo de acontecer algum desastre devido ao estado dela. Na verdade, não tinha certeza se aquele estado era álcool ou alma sincera.
- Não, claro que não, eu quero uma cerveja – absolutamente cheia de si me respondeu.
Não fiquei muito surpreso na verdade, a partir dali comecei a me interessar e me sentir propenso a saber o que tinha ali dentro daquele ser cheio de energia, atitude, vontades e mistério.
Com mais e mais cervejas nosso papo foi desenrolando livremente sobre assunto diversos, mais sobre ela e eu ouvindo, interessado e perguntando, incentivando ainda mais seu ponto fraco (forte) de tagarela. Eu estava interessado, achando um charme e admirando a coragem por contar detalhes ao um recém conhecido, fiquei lisonjeado em saber que era confiável a esse ponto.
- E você, tem problemas assim na família? – ela.
- Não tenho, minha família é ótima – eu.
Ela não sabia o que expressar, se surpresa, ponderando ser brincadeira...logo percebeu que era verdade. Se interessou, acredito eu, ainda mais, por uma figura fora do comum, eu complementei:
- Sou uma pessoa comum.
Acho que ela ali ficou curiosa para pagar para ver, pressentindo que havia algo a mais nesse cara.
A noite ficava para trás e uma chuva forte nos impedia de deixar o local, fomos obrigados a ficar mais e prolongar nossa conversa e se conhecer melhor. Eu estava atraído completamente por e ela por mim. Não tínhamos muito a ver um com o outro, eu sempre tímido, na minha, falando o pouco que sempre falo, ela, falando com gestos e gesticulando com olhos, bocas e seu corpo, sempre inclinando em minha direção, deixando cabelo, dedos e mãos me tocarem, eu respondendo com carinho cada toque e atento ao que ela falava.
Os beijos interrompiam nossa conversa as vezes, logo seguiam se elogios dela, dizia que estava apaixonado por mim, falando de minha aparência, enquanto tocava meu rosto e alisava minha barba, olhando e desviando olhar. Eu achava um exagero ou procurava justificar dentro de mim que era o jeito da "louca" falar. Estava gostando muito, mas forçando dentro de mim não sentir o que estava sentindo, um forte desejo por ela, que não podia ainda digerir.
Com os seguranças nos expulsando da balada, ela se prontificou a pedir o taxi, queria eu fosse com ela, assim mesmo, sem rodeios. Eu não tive tempo de oferecer minha casa. Ela era decidida, já tinha percebido isso naquela altura, eu estava adorando. Percebi também que a noite não acabaria tão logo dentro dela.
No táxi, em meio a mais elogios e abraços, indicou ao bairro ao motorista, que por ser distante, se constrangeu, como se me sequestrasse e eu ficaria receoso. Eu já estava derretido todo por ela, ela poderia me levar meu rim naquela noite e eu sairia com o sorriso no rosto.
Fomos durante todo o caminho aos abraços e beijos, na verdade, estávamos assim há tempos, desde lá de dentro, nossas mãos e braços estavam constantemente buscando um ao outro, nossos corpos procurando encaixes e nossa bocas se desenhando aos beijos.
O percurso passou rápido e logo estávamos em sua cama, não me apresentou a casa, nossos desejos não permitiram, nossa embriaguez nos direcionou, nosso tesão nos tomou.
Havia tempo que não tinha um desejo tão grande por uma pessoa, era vontade de estar com ela, era tesão no seu corpo, uma curiosidade de adolescente pelos seus peitos que me tocaram a noite toda sobre a roupa, uma tentação por suas coxas bronzeadas e macias.
Nossas bocas não paravam de se beijar, movendo-se pelo pescoço, orelhas e rosto, voltando cada vez mais forte aos lábios um do outro, sob suspiros e gemidos.
Nossas mãos mudaram de forma, pressionando, apertando e percorrendo com força os dedos sobre nossa pele. Os movimentos eram intensos, fortes e nos direcionava uma para o outro com pressão e impacto, como se quiséssemos nos fundir um ao outros. Suas pernas me abraçavam, me apertavam, imobilizando parte de mim.
Nossa transa deixou a penetração como coadjuvante na sua cama, nossos corpos estavam continuando o que começou na pista, agora com a pele toda exposta e expulsando lençóis para vivenciar livremente a sensação do toque, da aproximação e da energia que nossos corpos unidos formavam. O dia já testemunhava nossa inquietude, nossa busca por se encontrar profundamente um ao outro através do sexo. Mas havia mais que isso sendo construído naquele momento, como uma pequena descoberta de sabor e sensação de sentimentos que acredito que nós dois não esperávamos. Nosso corpo e mente estavam se conectando assustadoramente, o tesão e desejo não eram suficientes para ter gerado essa energia.
Quando nossos corpos por fim se acalmaram dando lugar ao sono, não se apartaram, não se desencaixaram e ficaram juntos por um breve cochilo. Desrespeitando o cansaço físico, logo ela me acordou jogando-se sobre mim e querendo mais. Tirando energia desse novo sentimento, fizemos novamente. E novamente nossos corpos entraram em repouso encaixados, em uma conchinha estranhamente confortável para uma primeira noite.
Nossas mentes não tiveram tempo de chegar ao sono profundo e mais uma vez nossos corpos ficaram alertas um para o outro, aproveitando-se da posição suspeita, permitindo que a penetração completasse nosso encaixe. Nossa transa e descansos incompletos perduraram até o meio da tarde, confusos pela luz e calor que encerrava a noite e nos convidava a perceber o novo dia.
Devido aos meus medos, o avançar da hora me constrangia, por ser uma primeira noite, por ter sido tão bom, não queria mostrar que ficaria ali por mais tempo. Uma etiqueta cheia de tabus que envolvem as relações ou o começo de uma relação. Trocamos números e na cama mesmo ela me envia um elogio em forma de oi, respondo ali e mais a noite novamente, após horas em casa pensando nela, distante fisicamente, apenas fisicamente.
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